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Poltergeist - o Remake (2015)


09 estrelas (10)


Logo nos primeiros minutos uma pessoa sabe que vai gostar da estética do filme. Muito fiel ao original, contudo, modernizado e inovador nas cenas emblemáticas.

"Poltergeist" (2015) inova, ao mesmo tempo que brinda o espectador com tudo o que ele gostou no original. Começo a dar como exemplo a cena de abertura do filme. Inicia-se com um jogo eletrónico em que se mata Zombies. No carro, a jogar no tablet, está o filho do meio do casal «Diane e Steve», aqui re-apelidados de Eric e Amy. Robbie no original, aqui tem o (pavoroso) nome de Griffin. Com ele no carro viajam as duas irmãs: Madison, a mais nova dos três e Kendra, a adolescente. 

Só esse início é espetacular. Porque nos introduz vários temas e confirma ao espectador que este filme de horror também vai ter os seus momentos de humor, uma característica que marcou o primeiro filme. Ao colocar a nova tecnologia do tablet na trama, o autor aproveita para dar um toque de ironia ao que estará para vir. "Griffin" não sabe que o espera uma luta real com figuras parecidas a Zombies. É também durante essa viagem de carro rumo à casa nova que ficamos a saber que ele sofre de uma doença qualquer. 


E o carro chega ao seu destino, num enquadramento que em tudo elogia o original: a câmara movimenta-se em panoramica geral, numa vista de cima de todas as casas do bairro. Uma escolha de Spielberg em 82 que acabou por definir a identidade do filme. A câmara só para quando se posiciona nas traseiras da casa, com a família na frente. Uma imponente árvore domina a paisagem, diferente de todas as outras nos arredores, alta, bem ao lado da janela do sótão.

Em apenas 5 minutos na história, o fã percebe que está diante de um produto novo, mas que em tudo respeita a identidade do original. Depois desta panorâmica, um plano muito geral mostra-nos a nova casa vista de frente. Lá está a imponente árvore. 


É altura da família se instalar. Antes de entrarem na nova casa, o casal estica os braços e dão um ao outro um High 5, cumprimento que simboliza o seu optimismo por uma vida nova e também a sua cumplicidade. A relação entre o casal e a forma como disciplinam e educam as crianças é, sem dúvida, uma mais valia no filme original. "Diane e Steve" conseguiam transmitir a cumplicidade de quem vive há anos juntos, se ama e sabe muito bem como querem criar os filhos. Nesta versão, esta é, lamentavelmente, a única coisa que falha - como se vai perceber mais à frente. 

Madison fala sozinha, com os seus amigos imaginários

Subindo as escadas que levam ao andar superior, onde estão os quartos, Griffin vê a irmã caçula a falar sozinha para a porta de um armário. E quer saber com quem ela está a falar. Criança receosa, Griffin fica intrigado e vai para abrir o ármário, quando o pai surge para fazer exatamente o mesmo, mas sem sucesso. As portas estão penras e uma das maçanetas desprende-se. A família muda-se para aquela casa equipada com novas tecnologias e a pequena criança brinca pelos cantos. Encantada e divertida.

No jardim, Madison espeta um pau fundo na terra e diverte-se quando o vê subir. Começa assim, de forma muito subtíl, os primeiros «estranhos sinais» do paranormal que vai aterrorizar a vida destas pessoas. Nesta versão não existem cadeiras que se emparelham umas em cima das outras, nem a cena de «escorrega» no chão da cozinha. O filme prima por se manter fiel aos princípios mesmo introduzindo novas situações na história, até porque 35 anos se passaram e o mundo está diferente, principalmente nas tecnologias. Estas alterações em nada destoam, apenas complementam a narrativa, servindo como introdução ao que poderá estar para vir. 

Uma excelente panorâmica superior noturna volta a apresentar um elemento chave na trama: o quarto de Griffin, visto pelo exterior, do local da árvore. É hora de dormir.


Foquemo-nos agora na adolescente. No primeiro filme uma típica rapariga rebelde, focada em si mesma, somente interessada na sua vida social. Aqui passa-se o mesmo mas foi removida a independência característica dos adolescentes dos anos 80, que combinavam ir dormir à casa uns dos outros por vários dias e quase não davam «cavaco» aos pais. Nesta versão ela pode satisfazer a sua vida social sem sair de casa - dispensando mais o contacto real. Uma característica que merece destaque, pois é uma das mais significativas situações sociais geradas pela evolução nestas décadas. 

As interacções sociais mudaram radicalmente nos últimos anos
Kendra fecha-se no quarto a falar no chat. Com o computador no colo e com a TV acesa, ela e uma amiga comentam que vai começar um programa que adoram assistir, "Haunted House Cleaners", sobre um homem que vai “limpar casas de espíritos”. E as duas raparigas ainda acham piada e fazem troça do chavão que ele usa: “ESTA CASA ESTÀ LIMPA” (This house is clean) – uma imediata alusão ao que diz a medium Tangina no filme original, no final de toda aquela odisseia que resgatou de volta a pequena Carol Anne.

Neste Remake notam-se os cuidados que tiveram nos detalhes para as personagens. A adolescente é loura e não morena, a pequena criança não é loura e sim morena, mas mantém o comprimento do cabelo e o corte com a franjinha. O rapaz tem o cabelo louro. As mesmas características, mas no oposto, portanto. A equipa é constituida por uma mulher de baixa estatura - não deixaram de incluir esse detalhe de interesse. E é ela o elemento negro. E, refrescantemente, a medium é um homem, com chapéu e roupas escuras (não conseguem resistir ao cliché colocado pelo filme “O Exorcista”). Acho que é uma boa decisão. Dificilmente uma mulher conseguiria suplantar o efeito que teve a primeira, com as suas carateristicas físicas tão particulares. E nem deveria. Talvez em toda a história, a excepção mereça estar aqui. Afinal, quem mais poderia interpretar aquela figura? Além disso, esta alteração retrata com mais realismo a sociedade actual e o tipo de programas que povoam a televisão: programas sobre o paranormal, caçadores de fantasmas, médiums.... Muito boa escolha mesmo. 

A subtileza com que é apresentado um elemento que será importante na história
Quem se lembra que existe uma crítica social sobre um programa de TV no filme Poltergeist de 1982? Um indicativo sobre os programas da preferência do público naquela década - "60 minutes" e "It's Incredible". Programas onde tanta vez se exploravam temáticas mais «estranhas», ficando claro no filme que o casal os consideravam sensacionalismo e com nenhuma credibilidade jornalística. Mas tinham muita audiência e eram o "hit" da altura. 

Nesta versão de 2015 os principais elementos são mantidos e, assim, esta nova família continua a ser composta do casal e seus três filhos. Mas não existe cão, nem canário, nem peixinho dourado. Também foram retirados da trama aqueles vizinhos estranhos, que não sentiam a picada dos mosquitos e se recusaram a ajudar "Diane" quando esta escorrega para o buraco da piscina no seu quintal, no meio de uma chuva intensa. Desta vez não existe piscina sequer e essa circunstância que no primeiro filme tinha o único propósito de facultar um forte impacto visual, trazendo o medo e o terror por se avistar o primeiro de muitos esqueletos e a possibilidade de afogamento, é retirada da trama. 

A cena em que o assistente da equipa que vai à casa estudar o fenómeno paranormal entra no banheiro e tem uma visão da sua cara a derreter frente ao espelho, aqui não é reproduzida mas mantém-se na trama com um twist: essa alucinação é sofrida por Eric, o pai de família, após abrir a torneira da cozinha. E todo o episódio psicótico decorre no reflexo cromado do tubo da torneira. 


Uma decisão original que faz sentido se formos a reflectir na quantidade de vezes que já vimos, nas últimas décadas, o poder das imagens Geradas por Computador, que conseguem não só derreter rostos, como criar dinossauros, extra-terrestres e todo um «museu» cheio de criaturas bizarras com bastante realismo. O poder da cena no original reside, até hoje, na ausência dessa tecnologia e no efeito obtido por outros recursos. Se ainda hoje é forte, é porque é «outra coisa», que a CGI (computer generation Image) não consegue emocionalmente reproduzir.

O filme só peca por não criar uma ligação emotiva e conflituosa

No roteiro que Spielberg filmou, o casal "Steve e Diane" eram da geração hippie, ainda gostavam de fumar um charro ou outro de vez em quando, davam liberdade aos filhos e por vezes nem sempre concordavam, mas se amavam e, acima de tudo, respeitavam-se e apoiavam-se um ao outro. E depois tinham problemas financeiros, o emprego de "Steve" podia estar em risco, tinham investido tudo o que tinham naquela casa, que para eles era um sonho de uma vida. Além disso, quando este sonho desmorona, a filha caçula desaparece de forma inexplicável e só é escutada no aparelho de televisão, o casal sofre, cada qual à sua maneira. Com a chegada de estranhos que supostamente podem resolver o caso através da sua experiência profissional no estudo da paranormalidade, a descrença do pai está patente na atitude, misturada com o seu sofrimento, o seu sentimento de que falhou a proteger os filhos e a sua incredulidade perante o que está a viver. Ele não consegue dormir, ele está a ser pressionado pelo patrão, ele tem de ocultar o pavor que está a viver dos outros. "Diane" por sua vez, consegue passar aquela sensação de mãe-leoa, que não se trava a nada para proteger a sua família. E que tenta ser forte, procura apoio no marido quando está mais em baixo e tenta conhecer os estranhos que lhe entram pela porta a dentro, acabando inclusive, por estabelecer um pouco de afeto e cumplicidade no curto espaço de tempo que dura toda aquela tragédia. Enfim, existe muita coisa que nos é dada na primeira versão de uma forma que quase não damos por ela, e que nesta nova versão está praticamente ausente. 

Nesse sentido fica a minha pior crítica. Os pais deixam a desejar. A sua cumplicidade é plastificada. Nas últimas décadas do cinema as relações entre casais heterosexuais bem sucedidos têm sido retratadas com plasticidade, como se todos tivessem um pau enfiado no rabo. 

Nesta versão, os pais não tinham sido apresentados a quaisquer fenómenos estranhos até o momento de chegarem a casa e depararem com o filho pendurado no topo da árvore. Por isso mesmo a reação destes pais devia ter sido de incredulidade, de quase histerismo e muito pânico. Mas foi muito calma. Eles acabam por "aceitar" com demasiada normalidade o que até então desconheciam. O resgate do filho da árvore, cujo aprisionamento já estava a decorrer desde que eles ainda estavam sentados à mesa do jantar, é feito com rapidez e facilitismo, quando no filme original foi uma luta maior e o público sente receio que estes não cheguem a tempo, que a criança não se salve e que a árvore faça algo terrível.

No original a família tinha reparado no comportamento estranho do cão (aqui não há cão), que ladrava no meio da noite para a parede e ia buscar a bola do nada. Já tinha vivido a experiência das cadeiras da cozinha a se movimentarem sozinhas de uma ponta à outra. As luzes piscaram sem explicação e a filha caçula estava constantemente a falar sozinha com o seu «amigo» que só ela via. Existiram bases para os pais acreditarem com mais facilidade no que viria a seguir: o desaparecimento da filha e a sua presença dentro da televisão, quando sem emissão. Nesta nova versão, existe um bónus: a sombra de uma pequena mão aparece de dentro da TV, para estabelecer contacto.  


Nem nestas circunstâncias, nem depois quando estes pais tomam consciência que a filha Madison não está em parte alguma e sua voz surge de um monitor de TV, eles sentem pânico. Aquele instinto de correr e acudir, salvar o quanto antes, é uma aposta fraca. A solução é chamar peritos em paranormalidade. O que aqui é feito com rapidez, sem idas a faculdades, e a descoberta do poltergeist é rapidamente efetuada, sendo prontamente chamado o melhor especialista para lidar com a situação: Carrigan Burke, o «limpa casas» tornado celebridade pelo programa de TV.

O filme então desenrola-se dentro dos parametros normais. Mas tem alguns twists que valem a pena mencionar. O "outro lado" é visto pelo público, como sendo as trevas no cenário da própria casa. Madison está nessa dimensão. Não existem espectros filmados a descer as escadas - que causa impacto no original e lhe dá um toque de magia, mas cá está: fica bem lá na década de 80, contextualizado com os relógios de pulso antigos. 


Aqui a cena de alucinação também é vivida pelo assistente mais céptico, quando este vai instalar dentro do armário um aparelho medidor. Embora não seja  o rosto a deteorar-se, a cena assusta um pouco. Neste remake o papel da mãe enfraquece e o de irmão ganha força: é a criança, por se sentir responsável por ter deixado a irmã sozinha no quarto, que entra dentro do armário que é o portal para a outra dimensão. Entra sozinha, seguindo a corda que desta vez não é mantida esticada por força manual e sim fixa na parede por um acessório (que facilmente as forças paranormais podiam desatarrachar, se o desejassem, o que acaba por acontecer). Griffin entra no mundo que o aterrorava, enfrenta os seus medos e salva a irmã, sendo os dois depois resgatados na sala e levados para a banheira com água. Esta alteração impede-nos de ver outro dos momentos fortes do filme, de levar às lágrimas, que é o desespero do pai ao ver tanto a filha quando a esposa inanimadas na banheira. Mas não é um grande pecado. Neste remake a adolescente não sai de casa para voltar depois e deparar-se com o expoente máximo da paranormalidade (cá está, não existe hoje a independência de antes e a internet veio a preencher um pouco a necessidade de estar com outras pessoas). A família procura fugir de carro, sem que cadáveres ou caixões alguma vez surjam na trama. E não fazem falta.

No instante que vão partir, a filha caçula informa-os de que as almas não foram embora, porque ela não as conduziu "até à luz" e por isso, estavam zangadas. De imediato o carro é puxado para dentro da sala, atravessando a parede, a casa começa a manifestar-se e Madison voa pelos ares até chegar de novo ao interior do armário. O limpador de casas resolve salvar aquela família e «sacrificar-se», ao decidir ser ele a entrar na outra dimensão para mostrar o caminho da luz às almas perdidas.

O boneco palhaço (Bonzo) com o seu nariz de corda, ganha mais pontos nesta versão 

Mas como a tecnologia evoluiu muito, todos ali tinham um localizador GPS e no final, a mulher que primeiramente foi consultada pela família para solucionar o caso - que agradavelmente acaba por ser, também, ex-esposa do «limpador de casas», o que devolve ao filme uma pitada da cumplicidade que "Diane" obtia quando conhecia mais a fundo as pessoas que estavam na sua casa. 

No final a família foge, no mini-carro da dra. Brooke, a ex-mulher do limpador, e o filme não termina com a cena deles os cinco mais o cão a fazer o check-in num motel e a empurrar a televisão para fora do quarto. O novo final também é bom, embora o tempo todo me tenha deixado com algumas questões quanto à sua veracicidade. O filme termina não nessa noite, mas na manhã seguinte, com a família, ainda a conduzir o carro da dra. Brooke, a ir conhecer uma nova casa para alugar. Muito espaçosa, com quartos no sótão, muito espaço nos armários e uma grande árvore centenária para «proteger» a casa. Uma luxuosa moradia em tudo parecida à que acabaram de perder. E por isso mesmo resolvem fugir dali o quanto antes, deixando a mediadora a falar sozinha. 


As interrogações com que me deixa este final são: onde foram estes pais, ambos desempregados, buscar dinheiro para alugar uma outra casa daquelas dimensões? Além de desempregados, tinham acabado de perder tudo o que possuiam. E no banco não tinham nada. Todos os cartões de crédito eram recusados na caixa de supermercado e nem conseguiam ter o suficiente para comprar um telemóvel á filha adolescente. Estavam a contar cada tostão! Mas é tão fácil assim, na América de hoje, obter empréstimos quando nem o carro lhes sobrou como posse? 

Outra coisa que me deixou com dúvidas foi o paradeiro deles durante a noite. Terão conduzido durante horas até ter amanhecido? E como decidiram, nesse espaço de tempo, entrar rapidamente em contacto com uma mediadora e foram logo ver uma outra casa para morar? Não têm pais, as crianças não têm avós, tios, parentes, a quem podiam ter contado o sucedido e pedir uma ajuda provisória, nem que fosse para abrigo das crianças? Não foi preciso se refazerem do choque de tudo aquilo? No filme original isso percebe-se, só no simples acto da família, de rastos, ir descansar para um motel. Neste fica a dúvida  sobre o que fizeram até amanhecer.

Este Remake de Poltergeist honra o seu antecessor e tem todos os ingredientes para virar um filme de culto

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